segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
Logosofia #4: Não comprometa o ser de amanhã com situações impensadas
domingo, 9 de outubro de 2022
Arte da Prudência #8
Esforço e talento.
Não há superioridade sem essas duas qualidades. Havendo ambas, a superioridade supera a si mesma. A mediocridade com o esforço consegue mais do que os superiores que não o fazem. O trabalho dignifica. Com ele, adquire-se reputação.
Alguns são incapazes de se aplicar mesmo às tarefas mais simples. O esforço depende quase sempre do temperamento. É aceitável ser medíocre num trabalho sem importância: há a desculpa de que fomos talhados para coisas nobres. Porém contentar-se em ser medíocre numa tarefa inferior, podendo ser excelente na mais elevada, não tem desculpa. Tanto a arte quanto a natureza são necessárias, e a aplicação as consagra
Não há maiores anotações a serem feitas. Você tem feito o seu melhor?
*
*
(Anderson Kaspechacki)
terça-feira, 4 de outubro de 2022
Arte da Prudência #7
Associar-se àqueles com quem pode aprender
Seja o convívio amigável uma escola de erudição e torne a conversação instrutiva. Faça dos amigos professores e combine a utilidade da aprendizagem com o gosto da conversa. Alterne a fruição com a instrução. O que você diz será recompensado com aplausos; o que ouve, com aprendizados.
O que nos leva aos outros, em geral, é a nossa própria conveniência; aqui ela tem um sentido maior. Os prudentes frequentam as casas de renomados heróis que são mais palcos de heroísmo que palácios de futilidade. Alguns são notáveis pelos conhecimentos e bom senso; pelo exemplo e pelo modo de agir, são oráculos de toda grandeza. Aqueles que os cercam formam uma academia refinada de discrição e sabedoria elegantes.
A visão desse conhecimento é clara, mas é preciso considerar que até mesmo a pessoa menos instruída tem algo a lhe oferecer em sabedoria. Você para para ouvir o que os outros tem a dizer? A sua posição/opinião está cristalizada a tal ponto que você não está disposto a ceder/rever seu entendimento?
*
*
(Anderson Kaspechacki)
sábado, 1 de outubro de 2022
Logosofia #3
O Mestre Raumsol, em outro trecho no livro já referido, ensina:
Penso que todos amamos a vida, mas não pelo o que a vida nos dá, e, sim, porque nos foi entregue para que façamos dela o melhor dos usos. Amamos a vida porque nos vem de Deus, que é Quem criou todas as coisas; porque essa vida Lhe pertence; e porque, amando nossa vida, amaremos a Ele. Portanto, cuidem dessa vida em sua forma, conteúdo e espírito, e orientem constantemente seus pensamentos para as direções onde pressintam que vão encontrar algo que pertença a Aquele que lhes deu a vida. Que, ao se inspirarem em algo, sejam conscientes de que o objeto dessa inspiração pertence a Quem os criou. Não se esqueçam que toda inspiração deve nascer sempre como uma oferenda de realização: generosamente e nunca com intenções egoístas. Somente assim se podem superar muitas dificuldades na vida, no mundo, no contínuo batalhar e lutar contra os obstáculos que nos cercam. Se o homem conhecer qual é sua posição no meio em que vive, saberá conduzir-se, conforme a conduta que essa posição determina, evitando os saltos que fazem perigar a estabilidade.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
terça-feira, 27 de setembro de 2022
Logosofia #2
O Mestre Raumsol, em seu livro "introdução ao conhecimento logosófico", ensina:
Há que fazer brotar a alegria interna para que se transforme em boa disposição, de modo que tudo seja feito com gosto e nunca se mortificando por isso ou aquilo, pois se estaria tirando todo valor do que foi feito. Quando uma coisa é feita com gosto, todos a valorizam, desprezando-a quando é feita a contragosto. A diferença entre uma e outra forma de atuar é muito notável, sem dúvida. Só esse fato deve estimular a todos, de hoje em diante, a fazer as coisas como devem ser feitas, isto é, com o mesmo gosto com que Deus fez tudo o que existe.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
domingo, 25 de setembro de 2022
Logosofia #1
O Mestre Raumsol, em seu livro "bases para sua conduta", ensina:
Quando as lutas que a vida lhe oferecer forem duras, suavize-as. Não aumente sua dureza tornando-se pessimista ou deixando que sua fortaleza decaia. Faça da luta, em todo momento, um ensinamento; torne doce seu sabor quando essa luta lhe for amarga. Verá como a observância deste conselho o levará ao triunfo.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
segunda-feira, 19 de setembro de 2022
Arte da Prudência #6
Fama e fortuna
O que uma tem de inconstante, a outra, de firme. A última nos ajuda a viver, a primeira nos ajuda mais tarde. A fortuna contra a inveja, a fama contra o esquecimento. Podemos desejar a fortuna, e às vezes nutri-la com nossos esforços, mas toda fama exige trabalho constante. O desejo de reputação nasce da virtude; a fama foi e é irmã de gigantes. Anda sempre pelos extremos: monstros ou prodígios, vitupérios ou elogios.
A clareza que essa diferença irradia e a forma como se manifestam pode auxiliar, sem dúvidas, ser trazida para mais perto de nós para uma análise: estamos próximos dos gigantes? Temos feito algum movimento contra o esquecimento?
*
*
(Anderson Kaspechacki)
quinta-feira, 15 de setembro de 2022
Arte da Prudência #5
Alcançar a perfeição
Ninguém nasce perfeito. Deve se aperfeiçoar dia a dia, tanto pessoal quanto profissionalmente, até se realizar por completo, repleto de dotes e de qualidades. Será reconhecido pelo requintado gosto, inteligência aguda, intenção clara, discernimento maduro. Alguns nunca se realizam, faltam-lhes sempre alguma coisa. Outros requerem um longo caminho para se formar. O homem completo - sábio na expressão, prudente nas ações - é aceito, e até desejado para privar do seleto grupo dos discretos.
O mais alto cume se alcança com perfeição. Para que isso aconteça, entende-se necessário que haja uma unidade no sentir e no pensar, tornando-se um em qualquer momento e situação, agindo, assim, com perfeição.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
quarta-feira, 14 de setembro de 2022
Arte da Prudência #4
Conhecimento e coragem se alternam na grandeza
Sendo imortais, imortalizam. Você é o tanto quanto sabe, e se for sábio é capaz de tudo. Homem sem saber, mundo às escuras. Discernimento e força; olhos e mãos. Sem valor, a sabedoria é estéril.
Atente-se ao que carrega consigo e saiba: você deve perder para ganhar. Veja bem atento leitor: você vende seu tempo (sua primeira mercadoria) e a troca por dinheiro, você acabou de perder para ganhar. Perder o que? Momentos familiares, por exemplo. Daí você compra algo e, para aumentar o nível, deve se desfazer e acrescentar algum patrimônio. Assim é com o conhecimento, vá com a "xícara vazia" para retornar cheia de tudo aquilo que ignorava ou transborde e não retenha nada em sua "xícara cheia" de sabedoria contestável, o sábio sabe que nada sabe, e você?
*
*
(Anderson Kaspechacki)
domingo, 11 de setembro de 2022
Arte da Prudência #3
Manter o suspense
O êxito inesperado ganha admiração. O que é óbvio não é nem útil, nem de bom gosto. Não se declarar de imediato atiça a curiosidade, em especial se a posição é importante o bastante para causar expectativas. O mistério, por sua característica arcana, provoca a veneração. Mesmo ao se revelar, evita a franqueza total e não permite que todos venham franquear o seu íntimo. É no silêncio cauteloso que a sensatez se refugia. As decisões, uma vez declaradas, nunca granjeiam estima e expõe à censura. Se desacertadas, estará duplamente desgraçado. Se quiser atenção e desvelo, imite a divindade.
Pois saiba, atento leitor, que muitos dos ensinamentos são difíceis de aplicar e, assim como um conselho de pai/mãe/amigo, existem situações difíceis de aceitar/realizar. Por isso, qualquer dos textos lançados aqui podem, ou não, serem aplicados. O importante de tudo isso é sabê-los, pois eles farão parte de ti, e os carregará consigo e utilizará no momento mais oportuno/apropriado.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
quinta-feira, 8 de setembro de 2022
Arte da Prudência #2
Na esperança de atingir o maior número de pessoas que se sensibilizam com o tema, continuo com nossas leituras reflexivas.
Caráter e inteligência
São os pólos que fazem luzir os predicados. Um sem a outra é apenas meia felicidade. Não basta ser inteligente; é preciso também ter o caráter apropriado. O tolo fracassa por desconsiderar sua condição, posição, origem, amizades.
Você goza de meia felicidade neste mundo? Houve algum instante que percebeu que a "inteligência" para contestar o lugar de outra pessoa feriu de morte o "caráter" esperado para fazer "luzir os predicados" e por isso faz daqueles que usam dessa (e de outras) manobras de insensatos? Mantenha-se firme nos propósitos e aja com inteligência e, mais importante de tudo, com caráter.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
quarta-feira, 7 de setembro de 2022
Arte da Prudência #1
A arte da prudência, livro do qual irei retirar as futuras reflexões, foi escrito em 1647 e é considerado um oráculo manual de como sobreviver no mundo.
Muitos foram os livros que serviram como leme para mudar o rumo de uma sociedade, mas ainda é incrível a falta de conhecimento de grandes personagens.
O autor é Baltasar Gracián, 08/01/1601 ~ 06/12/1658, tendo falecido 11 anos após lançar essa obra que vos trago.
Se permita um minuto para pensar comigo as leituras vindouras. As reflexões irão possuir um número, título e texto dados por Baltasar e, logo abaixo, haverá uma modesta opinião/indagação minha sobre o tema, na esperança de alcançar alguém que mereça ler essas sentenças.
Um fraterno abraço.
Tudo alcança a perfeição, e tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição de todas.
Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado. E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo um povo.
O seu objetivo de vida deve ser evoluir. Baseie suas atitudes no conhecimento que adquiriu e aquele que irá obter. Não deixe de eliminar sua deficiências e propensões. Quando for avaliar a conduta das pessoas que o rodeiam, faça o caminho inverso: analise você e pense como as pessoas se comportariam/iriam sentir se fosse você que fizesse o que, por algum motivo, você considerou errado/grosseiro? Analise o mundo externo com leveza e o mundo interno com rigorosidade. Se em 1647 a situação se encontrava alarmante, o que poderíamos dizer de hoje em 2022, já passados 375 anos?
*
*
(Anderson Kaspechacki)
sexta-feira, 29 de julho de 2022
Leitura #24: Sexta-feira de carnaval
O desembargador federal Edilson Pereira Nobre Júnior, presidente do Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF5), assina a crônica “Sexta-feira de Carnaval”, texto que narra o dia do personagem Antônio João em São Paulo. Além de magistrado, Edilson é professor e recentemente foi eleito membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Leia a crônica:
SEXTA-FEIRA DE CARNAVAL
Tudo aparentava não terminar bem para Antônio João numa sexta-feira de carnaval em tempos finais de pandemia. À saída do flat que costumava hospedar-se em Sampa, o moço do I Food, ao vê-lo no seu blazer claro, comprado em Milão, disse-lhe: “Ei, velhinho, isso deve fazer muito calor”.
Ao chegar com o Uber na entrada do edifício de Vera, uma mulher a quem a passagem do tempo insistiu em resistir, veio outro contratempo. Os costumes parisienses da dama fizeram com que se revelasse afrontosa a tentativa de conduzi-la em tão ignóbil meio de transporte, ainda que fosse para um almoço com vinho no Mondo, paço gourmet sito no cruzamento entre a Oscar Freire e a Estados Unidos. Chateado, resolveu curtir uma solidão gastronômica no “Galeto do Aurélio”, trocando o seu Médoc por três chopes gelados pelo preço de dois.
O resto da tarde foi dedicado à espera no consultório médico, para ao final escutar a necessidade de realizar um regime alimentar senão passaria gradativamente a sofrer restrições em sua liberdade de locomoção.
Ao cair da noite veio uma tromba d’água, anunciando uma mudança de rumo. Dito e feito. O retorno ao flat foi de Uber, mas o gosto musical do condutor lhe reservou momentos de suavidade para que pudesse lidar com o engarrafamento no trânsito, o que sucedeu através de um excelente repertório de tango com a interpretação de Astor Piazzola.
Já no flat, ao passar pela recepção, o conciérge lhe entregou um envelope, o qual, após aberto, continha um cartão, com a seguinte mensagem: “Gostaria de estrear o meu baby doll rosa com vc esta noite”. Maria Augusta, apto. 903. Em seguida, um P.S. irresistível: “Não precisa trazer taças ou vinho, a não ser que um Malbec El Enemigo não lhe agrade”. Aí se lembrou e constatou que se tratava de uma jovem que, nos seus trinta e alguns anos, mantinha-se equidistante entre a inocência e a dissimulação, com a qual chegou várias vezes a conversar durante o café da manhã quando das suas estadas anteriores.
Antes de subir, Antônio João tratou de fazer justiça, avaliando o condutor do Uber com a nota máxima, além de uma polpuda e merecida gorjeta, pois, como leu algum dia e em algum lugar, a vida é um tango.
P.S.: Afinal, Antônio João existe? Há controvérsias. Até o momento a versão mais crível é a de que se tratava de um personagem imaginário, feito para relembrar Rubem Braga (O crime (de plágio) perfeito. In: Crônicas para jovens. São Paulo: Global Editora, 2014) quando, a pretexto de escrever crônicas em O Diário de São Paulo, se apropriara de pseudônimo com o qual Drummond escrevia para o Minas Gerais, órgão da imprensa oficial mineira.
*
*
(Anderson Kaspechacki)
quinta-feira, 21 de abril de 2022
Leitura #23: A miséria da condição humana - Desembargador Torres Marques
Embora eu não consiga precisar se a autoria do texto abaixo seja realmente da lavra do Sr. Desembargador Torres Marques em seu discurso de posse, fato é que difere de qualquer outro lido por mim e, pela profundidade do conteúdo, o considero de leitura obrigatória.
"Excelentíssimo Senhor Desembargador Torres Marques:
Na pessoa de Vossa Excelência, por brevidade, cumprimento a todas as autoridades que compõem a mesa, ao colegiado pleno deste Tribunal e ao público presente.
Peço escusas por não usar meu tempo fazendo um discurso sobre a importância e a honra de ser alçado ao cargo de desembargador, porque isso é evidente por si só, como demonstra a cerimônia e dispensa louvações.
Ao invés disso, prefiro utilizar do privilégio de estar na tribuna para abordar este momento sob um prisma diferente.
Todos nós aqui, que integramos esse colegiado, representamos a memória viva das experiências que, ao longo de décadas, testemunhamos nos nossos gabinetes, nas salas de audiências e corredores dos fóruns: o desfile interminável da grandeza e da miséria da condição humana, especialmente da miséria. Toda essa memória não tem paralelo em nenhum outro âmbito da administração pública. Nós, os homens e as mulheres da justiça, somos os depositários dessa vivência única. Essas experiências, acabam por força, a nos fazer refletir sobre a fragilidade de nossa própria condição, e quando acontece de alguma delas nos tocar em especial, isso funciona como uma epifania, ou uma revelação. Lamentavelmente, não costumamos registrá-las e elas tendem a desaparecer conosco, o que é uma pena, pois o seu valor é atemporal e transcendente.
Eu tenho uma história dessas e gostaria de compartilhá-la.
Eu assumi a magistratura em janeiro de 1.990 e pouco depois fui lotado numa comarca do nosso litoral. Lá, deparei com uma pilha de processos sobre uma cadeira, todos aguardando sentença. Escolhi um deles, ao acaso. Tratava-se de uma ação ajuizada fazia exatamente dez anos! Dez anos! Um operário havia sofrido uma marretada acidental no trabalho e isso havia deformado a sua mão direita. Havia uma fotografia dessa mão deformada no processo e uma cópia da carteira do trabalho do operário, com a sua fotografia. O acidente ocorreu em 1978 e o INSS não reconhecera sua invalidez. O homem pretendia que o juiz declarasse o seu direito à aposentadoria, pois o trauma havia lhe provocado uma psicose que o tornado incapaz de trabalhar.
Esse processo ficou sendo jogado de um escaninho ao outro do cartório, sem nenhuma solução. Um simples despacho demandava meses. Permaneceu na fase de perícia por 03 anos. Depois ficou 02 anos no gabinete do promotor de justiça, mais de 01 ano com o advogado do autor e, finalmente, estava aguardando sentença há mais de 02 anos. Ao todo haviam se passado 10 anos.
Não havia nada naquela comarca que justificasse aquele estado de coisas e essa era a grande questão.
Coube, então, a mim, por acaso, prolatar a sentença, na qual reconheci a existência do direito que o cidadão reclamava.
Como eu era juiz substituto, fui removido para uma comarca próxima dali e uns seis meses depois, presidi uma audiência na área de família. De um lado da mesa sentou-se uma senhora e do outro, um velho apoiado numa bengala, surdo, alheio ao que se passava e acompanhado da filha, que me explicou que estava ali para ajudar o pai a entender o que ocorreria na audiência.
Quando aquele homem sentou e largou a bengala na ponta da mesa, a mão direita dele ficou bem próxima de mim, e eu imediatamente reconheci a mão deformada daquele operário, cujo processo eu havia julgado.
Então compreendi, naquele momento, que a minha sentença não fazia nenhum sentido e tinha até mesmo um gosto amargo de ultraje. Quando aquele homem precisou do Estado, o Estado lhe virou as costas. Quando ele precisou da sua aposentadoria para manter a sua unidade familiar e tratar de sua saúde, todos lhe viraram as costas. Agora, uma década depois, nada mais se podia fazer por ele, que não tinha sequer condições de manifestar sua indignação. Nós falhamos miseravelmente com aquele cidadão, essa é que é a verdade.
O que eu aprendi com aquela experiência chocante foi que nós, juízes, temos os mesmos defeitos e qualidades de nossos semelhantes, mas há um pecado em que não podemos incorrer, que é a indiferença com as nossas obrigações e responsabilidades. Um homem indiferente, de certa forma, é um homem armado, é um homem que pode fazer mas não faz, é um homem que não se dá conta do seu lugar no mundo e a ele se deve negar legitimidade para reclamar da falta de justiça. A indiferença nada mais é do que uma forma de degeneração moral. E nós não estamos aqui para ser indiferentes, mas para fazer a diferença.
Por isso, é importante fazer uma última referência. Todos nós aqui fizemos o mesmo juramento, de servir fiel e honradamente à Lei e à Justiça. Esse é o nosso mantra. A nós, portanto, cabe dar o exemplo, em primeiro lugar, porque o nosso compromisso com a justiça envolve nosso comprometimento com os valores acolhidos pelo Estado Democrático de Direito. Mas como podemos cumprir esse juramento, se, no momento em que se aproximam as eleições para os cargos diretivos de nosso tribunal, começarmos a desrespeitar a soberania dos atos que são aprovados por unanimidade por este colegiado, colocando-nos à frente do avanço na ampliação das garantias democráticas que todos, sem exceção, referendaram?
Existe um limite para tudo e ainda há tempo para refletir e preservar a dignidade desta Casa de um grande constrangimento. Eu faço um apelo nesse sentido. Toda a magistratura está olhando para nós. Não vamos atravessar essa linha. Vamos nos lembrar do que diziam os romanos, pais do nosso direito: quaisquer que sejam as batalhas que travemos na vida, é preferível guardar a honra na derrota do que se envergonhar da vitória.
Viva a Justiça e viva a Democracia".
*
*
(Anderson Kaspechacki)