segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Leitura #18: A arte da leitura

Palestra: Rodrigo Gurgel - Como ler? 

Dica da academia:
Ler em uma única passada 
Ler detalhadamente o texto 
Ler novamente e fazer uma resenha crítica do próprio livro 

Dica prática para a Leitura: 
Em uma única leitura, ler com o lápis na mão para não deixar passar nada, ler atendo ao som das palavras e do movimento do texto. 

Não podemos ler somente o que gostamos, isso serve para quem ler por entretenimento, os bons leitores devem ter um plano de leitura. 

A leitura precisa nos tornar melhor do que somos. 

Leia os grandes autores. 
Leia com disciplina. 
Devemos ler não por hedonismo, mas para que nossa inteligência cria uma fonte de observação e análise inesgotável. 

A verdadeira finalidade das nossas leituras e dos nossos estudos, não é como muitos pensam adquirir conhecimento, o verdadeiro objetivo é formar, aprimorar a faculdade da atenção. 

A atenção não é um esforço físico, mas sim abrir a alma, abrir a mente para que o conhecimento penetre. 

Não se pode ter desespero na leitura. 

Ler é uma aprendizagem para uma vida inteira. 

Não devemos ter preguiça de ler, nunca se entregar ao abismo do cansaço. 

O mundo da leitura nos oferece o que tem de melhor, pois os grandes escritores mantém o seu olhar preço no infinito, nos leva para outra dimensão. 

Os grandes autores revelam o que o senso comum esconde. 
Revela os aspectos metafísicos da nossa existência. 

Um leitor nunca está sozinho. 

Citações: 
"Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo tinha para dizer" - Ítalo Calvino. 
"Aprender a ler é a mais difícil das artes" - Goethe
"Um leitor nunca está sozinho" - Gurgel
"Um clássico é um livro que nunca terminou de dizer aquilo que tinha pra dizer" - Gurgel
"Acostume-se a compreender, aquilo de que vocês não gostam, afim de vir a gostar daquilo que vocês não compreendem." - Gurgel
"Não devemos ter preguiça de reler" - Gurgel 

Indicações: 
Simone Weil - Espera de Deus 
Henri Bergson 
Marcel Proust



(Anderson Kaspechacki)

quinta-feira, 2 de abril de 2020

Artigo #3: The Maxims of Delphi



1. Follow God.
2. Obey the law.
3. Worship God.
4. Respect your parents.
5. Be overcome by justice.
6. Base your knowledge on learning.
7. Understand after you have heard what has occurred.
8. Know yourself.
9. Intend to get married.
10. Take care to know the right opportunity.
11. Think as a mortal.
12. Act as if you are a stranger.
13. Honor your family.
14. Control yourself.
15. Help your friends.
16. Control your anger.
17. Exercise prudence.
18. Honor divine providence.
19. Do not use an oath.
20. Love friendship.
21. Concentrate on education.
22. Pursue honor.
23. Seek wisdom.
24. Praise the good.
25. Do not accuse anyone.
26. Praise virtue.
27. Practice what is just.
28. Be benevolent to your friends.
29. Guard yourself against your enemies.
30. Exercise nobility of character.
31. Shun evil.
32. Be interested in public affairs.
33. Guard what is yours.
34. Shun what belongs to others.
35. Listen to everyone.
36. Be religiously silent.
37. Do favors for your friends.
38. Nothing to excess.
39. Use time in an economical way.
40. Look toward the future.
41. Hate violent and offensive behavior.
42. Respect those who have taken refuge in holy temples.
43. Be accommodated to all.
44. Educate your sons.
45. When you have, give freely.
46. Fear deceit.
47. Praise everyone.
48. Be a seeker of wisdom.
49. Judge according to divine law.
50. Think first, act later.
51. Shun murder.
52. Wish for things possible.
53. Associate with the wise.
54. Test the character of a person.
55. Give back what you have received.
56. Do not suspect anyone.
57. Exercise knowledge and skills in profession, trade or science.
58. Give what you mean to give.
59. Honor good deeds.
60. Be jealous of no one.
61. Be on your guard.
62. Praise hope.
63. Hate a false accusation.
64. Gain possessions justly.
65. Honor good men.
66. Know the person who judges.
67. Submit to married life.
68. Believe in good luck.
69. Do not sign a guarantee when obtaining a loan.
70. Speak plainly.
71. Associate with your peers.
72. Govern your expenses.
73. Be happy with what you have.
74. Revere a sense of shame.
75. Fulfill a favor.
76. Pray for happiness.
77. Be fond of fortune.
78. Observe what you have heard.
79. Work for what you can own.
80. Despise strife.
81. Detest disgrace.
82. Restrain your tongue.
83. Guard against violent and offensive behavior.
84. Judge in a just way.
85. Use what you have.
86. Judge without accepting gifts.
87. Accuse someone (only) when he is present.
88. Speak (only) when you know.
89. Do not behave in a violent way.
90. Live without sorrow.
91. Behave with gentleness to others.
92. Complete your activities without fear and without shrinking back.
93. Treat everyone with kindness and friendship.
94. Do not curse your sons.
95. Govern your wife.
96. Benefit yourself.
97. Behave with a friendly and courteous manner.
98. Respond in a timely way.
99. Struggle without losing your good reputation.
100. Act without repenting.
101. When you err, repent.
102. Control your eyes.
103. Think without time limits.
104. Act quickly.
105. Guard friendship.
106. Be grateful.
107. Pursue harmonic co-existence.
108. Do not reveal entrusted secrets.
109. Fear ruling.
110. Pursue what is profitable.
111. Accept opportunity with pleasure.
112. Do away with enmities.
113. Accept old age.
114. Do not boast about your physical strength.
115. Your words should be words of kindness and respect.
116. Flee enmity.
117. Acquire wealth in a just way.
118. Do not abandon what you have decided to do.
119. Despise evil.
120. Venture into danger with prudence.
121. Do not get tired of learning.
122. Do not leave things undone due to thrift.
123. Admire the oracular responses (i.e. the responses of the holy men or women to questions put to them by anyone).
124. Love the people you feed.
125. Do not oppose somebody absent.
126. Respect the elders.
127. Teach the young.
128. Do not trust wealth.
129. Respect yourself.
130. Do not use insolence to govern.
131. Honor your ancestors by placing flower wreaths on their tombs.
132. Die for your country.
133. Do not be discontented by life.
134. Do not make fun of the dead.
135. Sympathize with the unlucky.
136. Gratify without harming.
137. Grieve for none.
138. Beget children from noble ancestry.
139. Make promises to no one
140. Do not wrong the dead.
141. Be well off as a mortal.
142. Do not trust fortune.
143. As a child, be well behaved.
144. As a teenager, control yourself.
145. As middle-age, be just.
146. As an old man, be sensible.
147. On reaching the end, be without sorrow.

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(Anderson Kaspechacki)

sábado, 28 de março de 2020

Opinião #11: Deficiências que ressaem na leitura

Leia para refletir, dialogar e não entre em embate com o autor.

"As vezes eu estou numa batalha com o autor, mas não argumentativa entre eu e ele, mas no fato de que ele quer me ensinar e eu não quero aprender, mesmo eu tomando a iniciativa de pegar o livro para ler. É um pouco estranho isso, mas as vezes acontece comigo..." - Gurgel

Respeite o autor como um ser semelhante, não subestime sua inteligência, escritos são feitos para serem atemporais, logo não teria feito algo que não fosse importante.


Lembrando que vale o mesmo quanto à si mesmo, respeite-se a ponto de não ser ludibriado pelos argumentos vários que surgem daquilo que está lendo.

Você inicia a leitura, cria um diálogo; porém no ato que se sente enganado (o autor esconde o que quer dizer), então você termina o diálogo mas mantém na leitura.


Afinal, você vai seguir toda a "estória" que ele tenta passar à ti, para avaliar ao final os limites de seu conhecimento e ponderar em quais pontos teria descordado e outros em que você traria grandes contribuições.

Leitura exige tempo, silêncio, recolhimento. 

Crie um espaço seu e, como nos assevera Rodrigo Gurgel:

"Não avançar na leitura se o que foi lido até então não foi entendido".


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(Anderson Kaspechacki)

sexta-feira, 20 de março de 2020

Leitura #17: A origem do homem político (mito de Platão)

Situando o diálogo
Sócrates havia perguntado ao sábio sofista Protágoras se a virtude poderia ser ensinada – já que este se propunha a ensiná-la aos jovens, e inclusive cobrando bem por isso. Será que todos os homens poderiam aprender a ser justos e virtuosos, ou o senso de justiça seria como a música, a matemática ou a retórica – habilidades que requerem não apenas estudo, mas também talento?

A virtude pode ser ensinada?

Protágoras conta, então, uma estória para responder à pergunta de Sócrates.



“Houve um tempo em que só havia deuses, sem que ainda existissem criaturas mortais. Quando chegou o momento determinado pelo Destino, para que estas fossem criadas, os deuses as plasmaram nas entranhas da terra, utilizando-se de uma mistura de ferro e de fogo, acrescida dos elementos que ao fogo e à terra se associam. Ao chegar o tempo certo de tirá-los para a luz, incumbiram Prometeu e Epimeteu de provê-los do necessário e de conferir-lhes as qualidades adequadas a cada um. Epimeteu, porém, pediu a Prometeu que deixasse a seu cargo a distribuição. Depois de concluída, disse ele, farás a revisão final. Tendo alcançado o seu assentimento, passou a executar o plano.

Nessa tarefa, a alguns ele atribuiu força sem velocidade, dotando de velocidade os mais fracos; a outros deu armas; para os que deixara com natureza desarmada, imaginou diferentes meios de preservação; os que vestiu com pequeno corpo, dotou de asas, para fugirem, ou os proveu de algum refúgio subterrâneo; os corpulentos encontravam salvação nas próprias dimensões. Destarte agiu com todos, aplicando sempre o critério de compensação. Tomou essas precauções, para evitar que alguma espécie viesse a desaparecer.

Depois de haver providenciado para que não se destruíssem reciprocamente, excogitou os meios de protegê-los contra as estações de Zeus, dotando-os de pelos abundantes e pele grossa, suficientes para defendê-los do frio ou adequados para tornar mais suportável o calos, ao mesmo tempo que servissem a cada um de cama natural, quando sentissem necessidade de deitar-se. Alguns dotou de cascos nos pés; outros, de garras, e outros, ainda, de peles calosas e desprovidas de sangue. De seguida, determinou para todos eles alimentos variados, de acordo com a constituição de cada um; a estes, erva do solo; a outros, frutos das árvores; a terceiros, raízes, e a alguns, ainda, até mesmo outros animais como alimento, limitando, porém, a capacidade de reprodução daqueles, ao mesmo tempo que deixava prolíficas suas vítimas, para assegurar a conservação da espécie.

Como, porém, Epimeteu carecia de reflexão, despendeu, sem o perceber, todas as qualidades de que dispunha, e, tendo ficado sem ser beneficiada a geração dos homens, viu-se, por fim, sem saber o que fazer com ela. Encontrando-se nessa perplexidade, chegou Prometeu para inspecionar a divisão e verificou que os animais se achavam regularmente providos de tudo; somente o homem se encontrava nu, sem calçados, nem coberturas, nem armas, e isso quando estava iminente o dia determinado para que o homem fosse levado da terra para a luz.

Não sabendo Prometeu que meio excogitasse para assegurar ao homem a salvação, roubou de Hefesto e de Atenas a sabedoria das artes juntamente com o fogo – pois, sem o fogo, além de inúteis as artes, seria impossível o seu aprendizado – e os deu ao homem. Assim, foi dotado o homem com o conhecimento necessário para a vida; mas ficou sem possuir a sabedoria política; esta se encontrava com Zeus, e a Prometeu não era permitido penetrar na acrópole, a morada de Zeus, além de serem por demais terríveis as sentinelas de Zeus. Assim, a ocultas penetrou no compartimento comum em que Atena e Hefesto amavam exercitar suas artes, e roubou de Hefesto a arte de trabalhar com o fogo, e de Atena a que lhe é própria, e as deu aos homens. Desse modo, alcançou o homem condições favoráveis para viver. Quanto a Prometeu, consta que foi posteriormente castigado por esse furto, levado a cabo por culpa de Epimeteu.

XII:

Uma vez de posse desse lote divino, foi o homem, em virtude de sua afinidade com os deuses, o único dentre os animais a crer na existência deles, tendo logo passado a levantar altares e a fabricar imagens dos deuses. Não demorou, e começaram a coordenar os sons e as palavras, a engenhar casas, vestes, calçados e leitos, e a procurar na terra os alimentos. Providos desse modo, a princípio viviam os homens dispersos. Não havia cidades. Por isso, eram dizimados pelos animais selvagens, dada sua inferioridade em relação a estes. As artes mecânicas chegavam para assegurar-lhes os meios de subsistência, porém eram inoperantes na luta contra os animais, visto carecerem eles, ainda, da arte da política, da qual faz parte a arte militar.

À vista disso, experimentaram reunir-se, fundando cidades, para poderem sobreviver. Mas, quando se juntavam, justamente por carecerem da arte política, causavam-se danos recíprocos, com o que voltavam a dispersa-se e a serem destruídos como antes. Preocupado Zeus com o futuro de nossa geração, não viesse ela a desaparecer de todo, mandou que Hermes levasse aos homens o pudor e a justiça, como princípio ordenador das cidades e laço de aproximação entre os homens.

Hermes, então, perguntou a Zeus de que modo deveria dar aos homens pudor e justiça;

- Distribuí-los-ei como foram distribuídas as artes? Estas foram distribuídas da seguinte maneira: um só homem com o conhecimento da medicina basta para muito que a ignoram, verificando-se a mesma coisa com todas as outras artes. Devo proceder desse modo com o pudor e a justiça, ou reparti-los entre todos os homens igualmente?

- Entre todos, disse-lhe Zeus, para que todos participem deles, pois as cidades não poderão subsistir, se o pudor e a justiça forem privilégio de poucos, como se dá com as demais artes.



Transcrito por Rodrigo Travitzki de:

PLATÃO. Diálogos: Protágoras. Trad. Carlos Alberto Nunes. De 320-d até 322-d. Universidade Federal do Pará, 1980.



(Anderson Kaspechacki)

sábado, 29 de fevereiro de 2020

Leitura #16: O Beija-Flor - Tobias Barreto

Era uma moça franzina,
Bela visão matutina
Daquelas que é raro ver,
Corpo esbelto, colo erguido,
Molhando o branco vestido
No orvalho do amanhecer.

Vede-a lá: tímida, esquiva...
Que boca! é a flor mais viva,
Que agora está no jardim;
Mordendo a polpa dos lábios
Como quem suga o ressábio
Dos beijos de um querubim!

Nem viu que as auras gemeram,
E os ramos estremeceram
Quando um pouco ali se ergueu...
Nos alvos dentes, viçosa,
Parte o talo de uma rosa,
Que docemente colheu.

E a fresca rosa orvalhada,
Que contrasta descorada,
Do seu rosto a nívea tez,
Beijando as mãozinhas suas,
Parece que diz: nós duas! ...
E a brisa emenda: nós três! ...

Vai nesse andar descuidoso,
Quando um beija-flor teimoso
Brincar entre os galhos vem,
Sente o aroma da donzela,
Peneira na face dela,
E quer-lhe os lábios também
Treme a virgem de surpresa,

Leva do braço em defesa,
Vai com o braço a flor da mão;
Nas asas d’ave mimosa
Quebra-se a flor melindrosa,
Que rola esparsa no chão.
Não sei o que a virgem fala,
Que abre o peito e mais trescala
Do trescalar de uma flor:

Voa em cima o passarinho...
Vai já tocando o biquinho
Nos beiços de rubra cor.
A moça, que se envergonha
De correr, meio risonha
Procura se desviar;
Neste empenho os seios ambos
Deixa ver; inconhos jambos
De algum celeste pomar! ...

Forte luta, luta incrível
Por um beijo! É impossível
Dizer tudo o que se deu.
Tanta coisa, que se esquece
Na vida! Mas me parece
Que o passarinho venceu! ...

Conheço a moça franzina
Que a fronte cândida inclina
Ao sopro de casto amor:
Seu rosto fica mais lindo,
Quando ela conta sorrindo
A história do beija-flor.

(1857) - Tobias Barreto

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(Anderson Kaspechacki)

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Leitura #15: Os Voluntários Pernambucanos - Tobias Barreto

Já fomos a gente ousada
Que um mundo virgem produz;
Já vio a Europa assustada
Settas e caboclos nus
Pularem grandes, valentes,
Vermelhos, resplandecentes,
Do abysmo dos occidentes,
Lavados em sangue e luz! ...

Hoje a idéa em nossa terra
Fulmina a espada voraz:
Que somos? Lavas de guerra,
Petrificadas em paz;
E pois não venham ignavos
Na lingua dos ferros bravos
Deixar os amargos travos
Desse horror que o sangue faz.

O Brazil, de coma intonsa,
Dorme e deixa-se afagar;
Macio qual pello d'onça,
Não no queiram insultar:
Os que repousam nas campas,
Sentem que o vento dos pampas
Lhes açoita as aureas lampas,
E os faz com raiva acordar! ...

Para estes vultos brilhantes
Morrer... é não combater;
É apear-se uns instantes,
Do valle ao fundo descer,
Fitar a noite estrellada,
E á espera d'outra alvorada,
Dormir nos copos da espada,
Deixando o sangue escorrer!

Que athletas ! que espectros grandes
Lá por onde o sol tombou,
No topo altivo dos Andes
Um cavalleiro estacou...
Susurram vôos angélicos,
Lambem-se os gládios famélicos,
Dir-se-hiam relinchos bellicos
Que o bronzeo corsel soltou! ...

Muita coragem, que dorme,
Desperta da guerra ao som:
Fumega o banquete enorme
De ferro e fogo! Está bom!...
Tudo ri, palpita, avança...
Que o rei também tome a lança,
Si tem brios um Bragança,
Si tem valor um Bourbon!

O povo sacode o somno
Da cabeça que descai:
Senhor! d'altura do throno
Vêde a mão de vosso pai,
Limpando todas as frontes,
Passando em montes e montes
Por cima dos horizontes
A cata do Paraguay! ...

E temos peitos vetustos,
Que batem sempre leaes;
Âmagos d'homens robustos,
Que ainda guardam mortaes,
Antigas, ferventes ascas
Do tronco saltam as lascas:
Mazeppas, Árabes, Guascas,
Vede lá: quem corre mais? ...

No coração desta gente
O bravo suffoca o ai.
Que ferros! o cedro ingente
De um golpe derreia e cai;
Ceda a republica insana;
Si emfim não se desengana,
Espada pernambucana,
Desembainha-te e vai!

Vai tu, que não geras fracos,
Cidade que abres-te aos soes...
Cornelia mãi de cem Graccos,
Viuva de oitenta heroes!
Quem ha que o collo te dobre?
Terrível, sincera, nobre,
Limpaste as faces de cobre
Das batalhas nos crysoes!

Não falia, não ri, não medra
Comtigo estranha altivez;
Tu tens nas unhas de pedra
Cabello e trapo hollandez
Teu sopro que accende a gloria,
Suspende a poeira da historia
Em turbilhões de victoria;
Venceste por uma vez!

Levantas o braço forte
E o raio matas na mão!
Como um aceno de morte,
Os Guararapes lá estão! ...
Volúpias de fogo exhalas,
As petreas juntas estralas,
E pões-te a salvo das balas
Por detrás de Camarão.

Guerreiro a morrer aífeito
Defende o Brazil, que é seu;
A hora soa no peito,
A cicatriz é troplieu.
Da patria as manhãs coradas,
As tardes acabocladas,
Flores, mulheres amadas,
São estrophes de Tyrteu...

(1865) - Tobias Barreto

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(Anderson Kaspechacki)

Leitura #14: A (im)possibilidade de mudar

Nada é impossível de mudar

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.

- Bertolt Brecht



(Anderson Kaspechacki)

terça-feira, 21 de janeiro de 2020

Opinião #10: Mutação(ões) do indivíduo

Pois bem, amigo
Idealize uma utopia
ou não terá ambições.
Edifique a obra
ou não haverá base.
Mantenha-se firme
ou irá perecer com o tempo.

Um pequeno grande personagem.
A média entre os mínimos.
Distante dentre os pares.
Atrasado, talvez...

De toda a imensidão,
um fluxo contínuo
de energias
passa por
ele...

Onde
poderia
alcançar a
individualidade
quando entre os demais?

Suas projeções ofuscam;
causam dúvidas,
discórdia e risos.
Mas falar não adianta,
ainda há vibrações
- boas, ou nem tanto -.


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(Anderson Kaspechacki)