quinta-feira, 20 de abril de 2023

As qualidades do lápis

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. Estava ali observando com as mãozinhas no queixo, quando a certa altura, perguntou: 

- Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E, por acaso, é uma história sobre mim? A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto: 

 - Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras, é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele quando crescesse. O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial, e a vó continuou: 

 - Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo. 

Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e ele deve sempre o conduzir em direção à sua vontade.  

Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas lhe farão ser uma pessoa melhor.  

Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da Justiça.

Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você.

Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca. Da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida, irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação. O sofrimento ensina. Os erros podem ser reparados, mas deixam marcas. O mais importante é cuidar do próprio ser. Devemos deixar deus nos conduzir nas suas vontades. Dores nos farão pessoas melhores. Corrigir nossos erros é muito importante para que sejamos justos. Nosso interior é muito mais importante que nosso exterior. 

Nossos atos tem consequências, por isso devemos sempre estar conscientes das nossas ações. Somos lápis, atentos a necessidade de um apontador, e sempre sabendo que precisamos muitas vezes usar a borracha. Este é o momento, seja o lápis, ou quem sabe o apontador, ou ainda a borracha, mas faça a sua parte! 

Escreva sua melhor história!

(Anderson Kaspechacki)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

Logosofia #4: Não comprometa o ser de amanhã com situações impensadas

Ergasto: — Não consigo compreender por que acontecem certas alterações no curso de nossa vida. Quando tudo parece andar sobre os trilhos, subitamente, sem havermos suspeitado ou sequer pressentido a mais remota mudança de situação, problemas graves ou dificuldades extremas nos sobrevêm, precipitando-nos em amargos transes.

Preceptor: — À sua indagação cabe responder da seguinte forma: o ser é uma sucessão de seres. Por conseguinte, de cada um depende que o ser de hoje não comprometa o de amanhã, criando-lhe problemas ou obrigando-o a enfrentar as situações que o primeiro não teve a valentia de enfrentar. Aquele que empenha com certa leviandade sua palavra ou seus bens, aquele que assina compromissos de cujos vencimentos o ser de amanhã deverá se responsabilizar, não criou para este os graves problemas ou dificuldades extremas a que você aludiu? Ocorre, geralmente, que se pensa egoisticamente no ser de hoje sem sequer se lembrar do de amanhã. Não obstante, há aqueles que, realizando dignos esforços, pensam neste último, para que esse ser de amanhã — que será ele mesmo — possa desfrutar uma situação folgada e feliz. Com eles não acontecem essas alterações de que você falou, porque são previdentes e não se atêm egoisticamente ao ser de hoje. Tudo isso ensina que, se em determinado momento se desfruta a felicidade, ela deve ser equitativamente repartida entre os seres que irão sucedendo ao de hoje, a fim de que haja continuidade e não contraste, evitando, ao mesmo tempo, que o sofrimento deste último alcance o ser de amanhã.

Ergasto: — Suponho que essa não será a única causa, já que, se não me falha a memória, em certa oportunidade o senhor me disse que são os nossos erros que nos trazem depois os desgostos e dissabores mais desagradáveis. 

Preceptor: — Se lhe aponto neste momento uma só causa, é porque eu a conceituava suficiente para sua compreensão. Além disso, ao lhe responder, levei em conta seu caso particular. 

Ergasto: — Perfeitamente. Gostaria ainda de expor ao senhor algo mais, por me ser muito necessária sua elucidação. É o seguinte: não faz muito, ante um acontecimento lutuoso, desses que com frequência se repetem em todos os lares ao desaparecer um de seus membros, eu me perguntei, diante do quadro dilacerador que estava presenciando, se não haveria algo, superior a nossos sentimentos, que, atuando em nós, atenuasse, ainda que em parte, a intensidade dessa dor. Porém, não pude encontrar nenhum raciocínio que valesse, capaz de moderar a intensidade de um golpe psicológico dessa índole. 

Preceptor: — Quando ocorre uma situação como a que você expôs, eu já disse outras vezes, os seres sofrem esses bruscos estremecimentos de angustiante desconsolo, por se tratar, precisamente, de acontecimentos sobre os quais nunca ou muito raramente pensam, para não serem invadidos por pressentimentos que depois afligem ou deprimem o ânimo. Isso se deve à ausência de uma concepção mais ampla dos transes humanos que é necessário afrontar no curso da vida. Uma mente iluminada pela ação fecunda do conhecimento transcendente sabe muito bem que o inesperado pode acontecer a qualquer momento, e, atendo-se a essa realidade, leva sua convicção ainda mais longe que toda esperança ou fato concebível, preparando o espírito para qualquer eventualidade, pressentida ou não, que possa sobrevir. Assim reconfortado, poderá nosso ânimo suportar com mais serenidade e inteireza o que, no caso de acontecer, nós mesmos já tínhamos concebido como algo irremediável.

Fonte: Livro Diálogos. Comportamentos que comprometem o ser de amanhã - Os acontecimentos inesperados.

(Anderson Kaspechacki)

domingo, 9 de outubro de 2022

Arte da Prudência #8

Esforço e talento.

Não há superioridade sem essas duas qualidades. Havendo ambas, a superioridade supera a si mesma. A mediocridade com o esforço consegue mais do que os superiores que não o fazem. O trabalho dignifica. Com ele, adquire-se reputação. 

Alguns são incapazes de se aplicar mesmo às tarefas mais simples. O esforço depende quase sempre do temperamento. É aceitável ser medíocre num trabalho sem importância: há a desculpa de que fomos talhados para coisas nobres. Porém contentar-se em ser medíocre numa tarefa inferior, podendo ser excelente na mais elevada, não tem desculpa. Tanto a arte quanto a natureza são necessárias, e a aplicação as consagra

 

Não há maiores anotações a serem feitas. Você tem feito o seu melhor?

 

(Anderson Kaspechacki)